Atuação de ONGs já representa 4,27% do PIB do Brasil, diz estudo
Já o Terceiro Setor é responsável hoje por 5,88% das ocupações do País, se aproximando do agronegócio que responde por 6,94%
Um estudo divulgado recentemente mostrou a importância das ações de voluntariado e filantropia tem no cenário macroeconômico nacional. De acordo com o levantamento, atividades coordenadas por entidades sociais sem fins lucrativos correspondem a 4,27% do PIB do Brasil.
O percentual supera o de fabricação de automóveis, ônibus e caminhões no país, cuja contribuição ao PIB é de cerca de 1,73%. Além de movimentar a economia, isso gera riquezas, empregos e outra série de benefícios ao país.
Intitulada “A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil”, a pesquisa foi publicada, na última quinta-feira (23), pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), realizado sob coordenação da Sitawi Finanças do Bem e iniciativa do Movimento por uma Cultura de Doação.
O objetivo do estudo, segundo a fundação, é fazer uma radiografia detalhada dessa cadeia produtiva, revelando sua real dimensão e interrelações com outros setores produtivos. Para ler na íntegra, clique aqui.
“Se aplicarmos o percentual de 4,27% ao PIB de 2022, isso corresponde a mais de R$ 423 bilhões”, ressalta Leonardo Letelier, CEO e fundador da Sitawi Finanças do Bem.
Ainda de acordo com Letelier, esse valor considera não apenas o impacto direto do Terceiro Setor no PIB, com produção de riqueza, mas também a demanda gerada por suas atividades, que impulsionam a economia. Em números aproximados, para cada R$ 100 que o Terceiro Setor gera de riqueza, ele estimula outros R$ 46 em diversas atividades econômicas para atendimento dos insumos necessários para sua atuação.
O estudo da FIPE também apontou que o Terceiro Setor, que engloba as fundações privadas e associações sem fins lucrativos, é responsável hoje por 5,88% das ocupações do País.
Na comparação, o Terceiro Setor já se aproxima do agronegócio, um dos mais importantes para a economia nacional, que responde por 6,94% dos postos de trabalho (formais e informais, desde que remunerados).
Outro indicador da relevância do setor é o seu valor multiplicador na produção de riqueza e na geração de ocupações e emprego. Na área de saúde, por exemplo, uma das avaliadas pelo estudo, para cada 10 ocupações geradas diretamente nas atividades do Terceiro Setor, outros cinco empregos indiretos são criados para atendimento das demandas e produção de insumos relacionadas a essas atividades.
Letelier ressalta que os dados obtidos apresentam de forma clara e transparente a importância do Terceiro Setor para a economia nacional. “Acreditamos que esse estudo contribuirá decisivamente para mudar a visão dos formuladores de políticas públicas sobre a relevância do setor no país. Não se trata apenas de ajudar uma parcela desassistida da população, que já é muito importante, mas também de contribuir para a geração efetiva de riqueza, emprego, renda e desenvolvimento sustentável”, pontua.
O estudo da Fipe usou a matriz insumo-produto idealizada por Wassily Leontief, que pretende chegar a construção de uma fotografia da economia, mensurando como os setores se relacionam entre si.
Ou seja, quais setores suprem os outros de serviços e produtos e quais setores compram de quem. Foi feita uma análise individual e total das estruturas produtivas das quatro atividades econômicas detalhadas do Terceiro Setor – Saúde, Educação, Atividades Artísticas e Outras Organizações Associativas – com base na última matriz brasileira de insumo-produto disponível pelo IBGE, de 2015. Escolher outro ano como referência traria uma menor robustez. Já o valor de contribuição ao PIB do Terceiro Setor foi atualizado tendo como base o PIB de 2022.
Áreas de atuação
O estudo avaliou o impacto do Terceiro Setor no PIB em quatro áreas: educação, saúde, atividades artísticas e outras organizações associativas (que desenvolvem atividades como geração de renda, direitos humanos, meio ambiente, segurança alimentar, assistência à infância, proteção aos animais, sindicatos, associações religiosas, partidos políticos etc.).
O valor adicional ao PIB gerado pelo Terceiro Setor (4,27%) está distribuído da seguinte forma na economia: uma participação de 1,81% na saúde; Educação representa 0,77% do PIB do Terceiro Setor, seguida por atividades artísticas, com 0,31%; as demais organizações associativas, 1,40%.
A Fipe calculou, ainda, um cenário no qual todas as contribuições do Terceiro Setor, relativas ao seu impacto econômico, fossem retiradas da sociedade. Os estados que mais sentiriam essa lacuna seriam São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.