O aumento da busca pelo termo que unifica as principais preocupações da sociedade
A popularização da expressão “ESG” traz à tona a necessidade de diferenciá-la de outros termos mais conhecidos.
A busca pelo termo “ESG” (do inglês, Environmental, Social and Governance) é uma crescente desde meados de julho de 2020 no Google Trends Brasil. Isso significa um maior interesse geral pelo público no assunto, mas não aponta que necessariamente as pessoas entendem e percebem, na prática, essas ações nas empresas.
Por outro lado, a popularização da expressão, que faz referência à Governança Ambiental (E), Social (S) e Corporativa (G), traz à tona a necessidade de se diferenciá-la de outros termos mais conhecidos. E para isso, é preciso tirar do papel os conceitos atrelados ao tema nas corporações.
É o que o administrador e doutor em avaliação de organizações com perspectiva de Governança Ambiental, Social e Corporativa, Aron Belinky, explica. “Para você pensar em ESG de uma maneira consistente, o primeiro é observar a questão dos impactos – da empresa para o mundo e do mundo para a empresa”.
Nesse sentido, Aron destaca que as instituições que querem se adequar precisam fazer uma análise sistêmica de toda a corporação para entender se possuem condições de ter um plano de ação. “Não para ter uma marca na moda, mas para ter uma estratégia de negócio”, enfatiza.
O administrador reforça que não existe receita de bolo, mas algumas regulações já estão sendo pensadas. Um exemplo disso é a norma ABNT PR 2030 – ESG, que traz alguns conceitos, diretrizes e um modelo de avaliação e direcionamento para as organizações.
“A gente seguramente vai ter transformações cada vez mais profundas na economia, nos negócios, e as empresas que tiverem com essa gestão vão se adaptar melhor, mais rápido e ter uma melhor condição de competitividade”, conclui Aron.
Já para o doutor em Geografia, Rafael Rodrigues, que faz análises das abordagens dos fatores de ESG em empresas, a expressão vem de uma tendência, que surgiu na pandemia de Covid-19 – a de que os temas sustentabilidade, governança e sociedade estão intrinsecamente conectados.
“A pandemia trouxe essa necessidade da abordagem multidisciplinar para os problemas complexos da sociedade”.
Nesse sentido, com uma abordagem mais ampla, o conceito implica a melhora dos relacionamentos internos, equidade, gênero e raça dentro das instituições. Por outro lado, atualmente, parte do capital das empresas está muito relacionado com credibilidade e confiabilidade das empresas, segundo ele.
“ESG é uma síntese de várias preocupações que vieram amadurecendo na sociedade. A princípio foi o tema do meio ambiente, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento ECO 92 – que trouxe esse tema para a sociedade. Nos anos 2000, a questão da responsabilidade social passou a ser um foco das empresas. E em 2010, a governança apareceu com força, muito por causa de crises financeiras em grandes bancos internacionais e falta de governabilidade sobre dados e informações”, explica Rafael.
Para ele, o futuro das empresas é o amadurecimento dessas discussões, que devem chegar à sociedade com o objetivo final de internalizar estes conceitos.
Problemas e discussões antigas
Apesar da alta procura por ”ESG” nos últimos tempos, as discussões que são atreladas ao termo não são novas. Segundo a administradora de empresas e professora de estratégia de organização da Fucape Business School Márcia D’Angelo, o debate geral sobre as questões envolvendo esse acrônimo data dos anos 20.
“Naquela época, tínhamos um movimento chamado Ecodesenvolvimento, que tinha as mesmas preocupações atuais. Mais tarde, nos anos 70, ele foi substituído pelo Desenvolvimento Sustentável, que é o conceito mais famoso e difundido, embora também receba muitas críticas. Tivemos o termo Sustentabilidade, em seguida veio Responsabilidade Social Corporativa e Corresponsabilidade Social”, conta a professora.
Neste sentido, foram várias denominações para formulações de problemáticas similares. Mesmo que com algumas divergências conceituais, as pautas envolvendo o meio ambiente, as questões sociais e de governança sempre apareceram de alguma forma, de acordo com Márcia.
A novidade no debate das pautas ESG, para ela, fica por conta das questões envolvendo a saúde pública, que desde a pandemia de covid-19 estão em alta. Desta forma, atualmente, é impossível conceber as corporações sem essas preocupações.
“Isso é um caminho sem volta. Não é possível ter negócios que só pensem em fins econômicos e não pensem nas consequências sociais – no conceito lato, abrangendo absolutamente todas as questões sociais, ambientais, políticas, abrangendo todos, desde o micro empreendimento até as grandes empresas, com ou sem fins lucrativos”, explica.