Camillo Neves: “Nosso objetivo é diminuir a desigualdade social”

Inicialmente, o objetivo era apenas proporcionar a crianças da comunidade a chance de aprender futebol gratuitamente

Há dois anos, o atleta de beach soccer e empresário Camillo Neves abriu um instituto sem fins lucrativos, que leva seu próprio nome, na Ilha de Santa Maria, em Vitória, bairro onde nasceu e foi criado. No começo, o objetivo era proporcionar a crianças da comunidade a chance de aprender futebol gratuitamente.

No entanto, a pandemia da Covid-19 chegou e ele precisou apertar o pause no seu sonho de garantir um futuro melhor para aquelas pessoas. Em janeiro de 2022, ele se reuniu com sua equipe e decidiu que queria fazer mais que já estava fazendo e mais do que já era feito.

Assim nasceu o Instituto Camillo Neves, que oferece futsal, Jiu-Jitsu e futebol de society para crianças. Além disso, também é oferecido pilates, fisioterapia, aula de dança e ginástica funcional para os idosos e adultos.

Para se inscrever, o morador pode enviar uma mensagem de texto via WhatsApp no número (27) 99924-0777 ou comparecer ao Instituto, presencialmente, às quartas e sextas-feiras pela manhã.

Instituto Camillo Neves
Alunos fazendo oração antes da aula, no Instituto Camillo Neves | Foto: Reprodução/Instagram

“Nosso objetivo é diminuir a desigualdade social”

Repórter: Quando começou a vontade de transformar a realidade do outro?

Camillo: Nós fazíamos um trabalho voluntário, há 8 anos, também com futebol, mas aí veio a pandemia e a gente parou. Quando resolvemos voltar, eu falei que só voltaria se tivesse uma estrutura melhor, para que a gente conseguisse fazer algo que realmente não fosse mais do mesmo.

A intenção, na verdade, disso tudo, é só devolver um pouco do que o esporte me proporcionou. A mim e a as pessoas que, através do esporte, conseguimos chegar a tantos lugares, abrir caminho em outros segmentos da sociedade. Enfim, o esporte é uma ferramenta que parece até ser clichê, né? Mas ele tem esse potencial grande, de levar  felicidade, alegria e de agregar as pessoas.

Qual a importância do trabalho voluntário para a mudança social?

O Terceiro Setor tem essa importância, né?! Da gente tentar esticar a mão e ajudar alguma família, que o poder público não está conseguindo alcançar. Então, por exemplo, um filho de um pai rico, de uma mãe rica, tem condições de tentar sonhar com coisas boas, fazer um esporte, como o tênis, o futebol, qualquer um outro.

Mas, às vezes um menino talentoso, que nasceu com o dom divino, mas dentro de um lugar pobre, não tem condições para isso. De tentar sonhar em ser um atleta profissional.

Além disso tudo, mesmo não virando um atleta de alto rendimento, o esporte disciplina, ensina as pessoas a respeitar, o esporte ensina a perder, que é o que mais acontece na vida da gente. O esporte ensina, inclusive a escutar um não.

Então, essa é a nossa tentativa. Equilibrar a desigualdade social. Porque, a partir do momento em que você preparar um homem, ele com certeza vai poder sair do local onde ele estava, para galgar lugares maiores na sociedade.

Instituto Camillo Neves
Confraternização de turmas do Instituto Camillo Neves | Foto: Instagram

Como começou o Instituto e como ele está hoje?

O instituto começou muito pequeno. Nós começamos atendendo 24 crianças e, hoje, são mais de 400 famílias. Isso me enche de orgulho. E, apesar de levar o meu nome, não é só em uma mão atuando nesse projeto, são muitas pessoas. Eu só tenho a agradecer a todas elas porque, sem elas, a gente não conseguiria chegar onde a gente chegou.

Por que escolheu a região da Ilha de Santa Maria?

É onde eu nasci e fui criado. Sabemos que é uma região de vulnerabilidade social e, por isso, que, atualmente, eu estou tentando levar um pouco de mais de luz para todas essas crianças e essas famílias que vivem ali.

Quais as possibilidades da união entre o esporte e o voluntariado?

Olha, a única coisa que eu peço a essa criançada é que eles não usem esse talento dado por Deus e as oportunidades, que ele traz, para serem marrentos, petulantes e arrogantes. Peço que eles sejam cidadãos de bem, que saibam dar bom dia, se portar como agregador na sociedade. E isso tudo tem a ver com o voluntariado.

Porque se você enche o coração dessas crianças de bons valores, lá na frente, é o legado eles que vão continuar. Então, quando se planta coisas boas, as coisas vão semeando.

Turma de Pilattes em aula durante o Carnaval, no Instituto Camillo Neves
Turma de Pilattes em aula durante o Carnaval, no Instituto Camillo Neves | Foto: Reprodução/Instagram

Quantas vidas já foram transformadas no Instituto?

Hoje são mais de 400 pessoas sendo atendidas, simultaneamente, mas já devem ter passados ali muitas famílias. Eu acredito que o número fica entre 700 e 800 pessoas atendidas e, se Deus quiser, a gente vai continuar.

E as parcerias? É difícil se conectar com empresas ou outras instituições do Terceiro Setor?

O primeiro ano costuma ser o mais difícil porque é onde você mostra credibilidade do seu trabalho, é onde as pessoas querem ver de fato a transformação social acontecendo.

Depois que foi passando esse primeiro ano e que as pessoas viram a mudança que teve no nosso bairro, as empresas e as instituições começaram a se aproximar. Hoje, com a graça de Deus, a gente tem empresas e parceiros consolidados no mercado que nos ajudam a manter esse trabalho bonito.

Quais os obstáculos para ser voluntário no ES hoje?

Os obstáculos sempre existem. Porque quem não tem vocação para este setor, acaba não se comprometendo, por não estar recebendo nenhum retorno financeiro.

Então, se a pessoa assume um compromisso com você, na segunda, quarta e sexta, quando chega na sexta-feira, você corre um risco: caso a pessoa não tenha vocação, ela pode te mandar uma mensagem dizendo que não vai poder ir por qualquer razão. Esse é um grande obstáculo.

Também existem outros obstáculos. Por exemplo, quando a gente vive em um país em que a política está sem credibilidade, você, por diversas vezes, tem um pouco de dificuldade em dar os seus primeiros passos. As pessoas já acham que você está fazendo as coisas para se beneficiar, se promover.

Mesmo assim, apesar disso tudo, se você tiver persistência e souber onde você quer chegar, isso tudo são obstáculos, com certeza, que todo mundo pode vencer.

Confraternização de turmas do Instituto Camillo Neves | Foto: Instagram
Confraternização de turmas do Instituto Camillo Neves | Foto: Instagram
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