Dia Nacional das RPPNs: “A floresta garante água e ar puro. Cada árvore é importante”
A proprietária-gestora da RPPN Reluz, Renata Bomfim, conta a história da Reserva e fala sobre a importância dessa modalidade de preservação.
Entre as 58 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no Espírito Santo, está a RPPN Reluz, localizada em Marechal Floriano. Comandada pela proprietária-gestora Renata Bomfim e sua família, a área cuja extensão é de dois hectares e meio tem o objetivo de ser um espaço de soltura de animais silvestres da região.
A experiência e as histórias desse lugar estão sendo compartilhadas no livro “RPPNs para sempre: contos, encantos e desafios”, organizado por pessoas que estão à frente dessas Reservas, como Renata. A obra está sendo lançada hoje, em comemoração ao Dia Nacional das RPPNs.
A redação do Portal de Notícias UmSocial conversou com a proprietária do Instituto Reluz sobre a importância da data, das Reservas Particulares e as expectativas para o futuro desses espaços. Confira:
Repórter: Qual é a importância das RPPNs?
Renata Bomfim: As Reservas Particulares são muito importantes porque primeiramente elas são a prova cabal desse envolvimento que a sociedade civil está tendo com a causa ambiental. O Governo não dá conta sozinho de cuidar do patrimônio ambiental. Então, além da preservação das áreas naturais, temos vários serviços socioambientais que as RPPNs prestam, como regulação do clima, preservação de polinizadores que garantem as colheitas, preservação do ar puro nas cidades, diminuição do impacto de calor e de barulho nas cidades, elas servem como abrigo para os animais silvestres. Então é por isso que nós precisamos de RPPNs de grandes extensões para conseguirmos ter animais maiores como jaguatiricas e macacos. Por outro lado, as Reservas também servem para pesquisa, ecoturismo – são tantos os benefícios que fica difícil citar todos eles.
Repórter: Como você teve a ideia de montar uma RPPN e como foi esse processo?
Renata Bomfim: Eu e meu marido sempre cuidamos dos animais, adotávamos cachorros e gatos de rua, mas em 2007 sentimos que queríamos fazer mais. Adquirimos essa área com remanescente de Mata Atlântica e colocamos o nome dela de Reserva Natural Reluz, nós ainda não sabíamos que existia a categoria RPPN. Foi só a partir de 2014 e 2015 que conhecemos a modalidade de unidade de conservação, e em 2017 nós homologamos ela como RPPN, fomos ao cartório e averbamos a área para preservação permanente.
Repórter: Como é feita essa preservação privada?
Renata Bomfim: Ela é privada, mas a Constituição de 88 coloca a preservação do meio ambiente como responsabilidade de todos. Então, embora a RPPN seja de propriedade privada, o poder público precisa dar apoio nessa gestão porque prestamos serviços ecológicos importantes. E têm acontecido muitas parcerias entre a RPPN e o poder público.
Repórter: Você já citou muitos benefícios das RPPNs para o meio ambiente, mas qual é o impacto cultural da divulgação de informações sobre essa modalidade de preservação?
Renata Bomfim: Esse termo particular do nome muitas vezes é mal compreendido. A Reserva não é particular da pessoa, mas sim do patrimônio porque eu, enquanto proprietária, respondo às mesmas leis que qualquer outra pessoa. Por exemplo, a partir do momento em que uma área se torna RPPN eu não posso extrair ou construir nada nessa área. Eu me torno uma guardiã dessa área, uma gestora. Por isso, ela deixa de me pertencer. O impacto cultural disso tudo é imenso porque nós temos uma cultura que remonta à colonização do Brasil.
Com uma ideia de que a natureza é ilimitada, de que caçar é um esporte, de que pode destruir, e a RPPN chega mostrando que não. A gente precisa preservar porque não é muito que temos. Existe um fenômeno que se chama “floresta vazia”, no qual os animais estão ficando escassos por causa da caça predatória e criminosa, por causa da destruição das árvores para construção dos condomínios. A gente vê que o interesse econômico ainda se sobrepõe ao interesse da coletividade da vida, o que é muito triste. A floresta garante água, ar puro, e consequentemente mais saúde. Quando começamos a ter uma visão mais holística de tudo isso, começamos a entender que cada árvore em pé é importante.
Repórter: Por que ter uma RPPN?
Renata Bomfim: Hoje, no Brasil, são mais de 1.800 de RPPNs. A maioria desses proprietários entendem que a vida fala mais alto. No meu caso, vale a pena porque eu sinto que eu estou fazendo algo bom não só pra mim, eu tenho a oportunidade de ter contato com a natureza e com os animais. Eu sei que eu vou passar, mas a natureza vai permanecer. Eu não fiz essa RPPN sozinha, fiz em conjunto com o meu marido. Esse é um projeto familiar que tocamos juntos.
Hoje, 80% dos remanescentes de Mata Atlântica estão em terras particulares. Então a RPPN é uma estratégia de preservação. Essa modalidade é a única em que o proprietário pode preservar, caso contrário o Estado precisa desapropriar as terras.
Repórter: Existe algum tipo de fiscalização nessas RPPNs?
Renata Bomfim: Sim, existe. Tanto no nível Federal quanto no Estadual. No Espírito Santo, quem faz essa vistoria é o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). Não existe um tempo pré-determinado para isso acontecer, as RPPNs podem estar sendo vistoriadas a qualquer momento.