Maria Vamos Juntas: Yngrid Pinto fala sobre coletivo de combate à violência doméstica no ES

O grupo oferece apoio com auxílio jurídico, psicológico, assistencial e já ajudou cerca de 160 mulheres no município da Serra

O Espírito Santo, em 2020 registrou 26 feminicídios e, neste ano, somente entre janeiro a março, 6 mulheres já perderam a vida simplesmente em razão da condição de ser do sexo feminino e, em sua maior parte por circunstâncias e contextos de violência doméstica e familiar. Esses dados são do Observatório da Segurança Pública, da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social.

Ignorar estes dados tornou-se insuportável para Yngrid Pinto, moradora do município de Serra, Espírito Santo, formada em direito, gestora pública e co-criadora do coletivo “Maria Vamos Juntas”. Ativista pelos direitos das mulheres, ela sempre pensou e desejou ajudar, apoiar e informar mulheres e toda a sociedade sobre a violência contra a mulher.

“Através de uma denúncia anônima podemos salvar vidas. Se você é vizinho, amigo ou familiar, de alguém que sofre algum tipo de violência, por favor, denuncie, você é uma ferramenta importante nesse processo. Não seja omisso, você estará salvando vidas. A violência é um mal, mas nossa indiferença é muito pior. Disque 180”, declara Yngrid, reforçando o seu pensamento.

Em 2018, como funcionária de uma unidade básica de saúde, ela percebeu algumas falhas no serviço público que chamaram a sua atenção para desenvolver o projeto e montar o coletivo. Ela notou que no seu trabalho, os servidores tinham dificuldade de identificar casos de violência doméstica, por exemplo, e que, a maioria das mulheres, das quais ela indagou, desconheciam a delegacia que atende exclusivamente casos de violência doméstica na cidade.

Diante de todas essas observações, Yngrid então deu início ao trabalho que foi o primeiro passo do “Maria Vamos Juntas”.

“Eu queria fazer algo que, de fato, mudasse a vida dessas mulheres com políticas públicas estruturais. Nosso papel na sociedade é aumentar a eficiência das políticas públicas e inovar nas soluções, otimizando resultados. Ajudando a criar e desenvolver redes de conhecimento e de ação em combate a violência doméstica e feminicídio”

– Yngrid Pinto, co-criadora do coletivo “Maria Vamos Juntas”

Conheça mais da história do coletivo, que trabalha no apoio às mulheres, com auxílio jurídico, psicológico, assistencial e com informações sobre saúde e pobreza menstrual.

Confira a entrevista completa:

– Quem são as pessoas que fazem o Maria Vamos Juntas acontecer?

Além de mim, que sou formada em direito e idealizadora do projeto, contamos com: Ciça Ribeiro (Educadora e Doutoranda em Químicas de Matérias), Daniele Erica da Silva Laudino (Assistente Social, Mestra em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local); Nayane Souza (Psicóloga), Ayhama Bussular Seixas (Psicóloga) e Natalya Cordeiro Ferreira (Bacharel em Direito).

– Quantas pessoas já foram atendidas pelo projeto até o momento?

Até o momento, cerca de 160 mulheres já foram atendidas pelo projeto.

– Quais são as principais demandas que chegam até o “Maria Vamos Juntas”?

É importante falar primeiro sobre informação. Por meio de pesquisa, constatamos que, 90% das mulheres do município de Serra não sabem sequer da existência de uma delegacia especializada, muito menos que o executivo possui uma secretaria própria de políticas públicas para mulheres.

Diante do exposto, temos uma grande demanda de repasse de informação, principalmente sobre os direitos que elas têm, como, por exemplo, solicitar medida protetiva de urgência. “Como? Onde? E com quem?” Além disso, desde o ano passado quando entramos em crise sanitária, começamos a fazer ações emergenciais com cestas básicas, o que não se confunde com assistencialismo e com objetivo do nosso projeto.

Ação realizada pelo coletivo “Maria Vamos Juntas” | Reprodução/Instagram

– Você poderia contar algum caso que foi ‘solucionado’, resolvido ou alguma história positiva do projeto, como exemplo do trabalho desenvolvido?

Sim, ano passado, atendemos uma servidora pública de nível superior, ex-esposa de policial militar. Após o fim do relacionamento, o ex-marido não aceitava o término e fazia ameaças constantes.

O fato dele ser militar, deixava a vítima com mais medo pelo fato da arma de fogo. Em um final de semana de passeio com a filha, o ex-marido encontrou a vítima no sinal de trânsito e a ameaçou com vários xingamentos, a mesma nos acionou.

Marcamos um encontro na casa dela, levamos nosso computador e fizemos o boletim eletrônico e a solicitação de medida protetiva pelos canais de comunicação online. Após alguns dias, a medida foi concedida e o militar teve sua arma suspensa e foi transferido para o setor administrativo da PM.

Esse caso em específico, nos mostra que mesmo a vítima sendo de classe média alta e com formação superior, não foi capaz de sozinha, procurar ajuda.

– Quais são as necessidades do Maria Vamos Juntas atualmente? Vocês recebem colaboração de alguma forma? Que tipo?

Nesse momento de crise sanitária nossa maior demanda está sendo a arrecadação de cestas básicas e kits de higiene pessoal. Também estamos com dificuldade dessas mulheres nos acionar, uma vez que estão em isolamento social. Importante salientar, que no ano passado, criamos campanhas de informação de onde buscar ajuda, criamos um cartão digital com links direto para solicitar serviços online de boletim de ocorrência e medida protetiva, direcionando para os endereços específicos.

Oficiamos também, a secretaria da mulher da Serra, para criar banner informativos e colocar nas unidades de saúde. Outra solicitação foi que a prefeitura em suas blitzes informativas de covid-19 com entregas de kits de higiene, entregasse também panfletos sobre violência doméstica e onde procurar ajuda.

Por fim, indicamos uma ementa na assembleia legislativa sugerindo adicionar os absorventes como item de cesta básica, com alíquota zero de ICMS, o que reduz 25% do imposto agregado, aumentando o acesso a mulheres de baixa renda. Nossas colaborações vêm de parceiros e amigos, bem como campanhas de arrecadação realizadas na internet através do Instagram.

– Até onde o Maria Vamos Juntas quer chegar? Qual a perspectiva de futuro para o projeto?

Nosso objetivo é a erradicação da violência doméstica e do feminicídio, com a proteção física e emocional da mulher e seus dependentes. Promover a igualdade de gênero e trabalhar a autonomia financeira da mulher e o empoderamento feminino como uma ferramenta para o rompimento desse ciclo de violência.

– Como as pessoas podem encontrar o projeto para buscar ajuda ou voluntariar-se?

Através das redes sociais e telefones as mulheres podem encontrar a nossa ajuda, ou ainda, para quem deseja se colocar como voluntárias e/ou ajudar nas doações.

Instagram: @mariavamosjuntas @yngridpinto / telefones: (27) 99203-0204 e (27) 99877-5769.

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