Presidente da Feapaes-ES explica sobre o atendimento às pessoas com deficiência em meio à pandemia

Em entrevista para o Um Social, Vanderson Gaburo conta como as Apaes mantiveram o trabalho em meio a pandemia e os projetos para 2021

Gestora das Apaes do Espírito Santo, a Federação das Apaes é uma instituição do Terceiro Setor que gere as articulações que possibilitam manter e colocar em funcionamento as instituições de atendimento às pessoas com deficiência no Espírito Santo. Não só as Apaes, a Federação tem papel fundamental neste atendimento também, às unidades chamadas coirmãs.

A Federação das Apaes do Estado do Espírito Santo atualmente tem 41 instituições filiadas, sendo 39 Apaes, a Amaes e a Vitória Down, todas instituições do Terceiro Setor capixaba e juntas somam 2.500 Profissionais e 9.106 pessoas com deficiência intelectual e múltipla e, suas famílias, atendidas. As Apaes do Espírito Santo oferecem serviços à população de 40 municípios em que estão presentes.

Com a pandemia do novo coronavírus muitas adaptações no cotidiano das pessoas do mundo todo foram feitas. Trabalho remoto, isolamento social, suspensão de atividades presenciais, dentre outras medidas de prevenção à Covid-19, tornam-se ainda mais difíceis, quando se trata em atender às pessoas com deficiência. Diante desse cenário, agrava-se também, a sensibilidade do deficiente à doença.

Nesse sentido, a Federação, desde o início, adotou medidas para garantir a segurança das pessoas e dos profissionais das Apaes e coirmãs do estado. Segundo a Feapaes-ES, os dados do painel Covid-19 do Governo do Estado mostram que a taxa de letalidade das pessoas com deficiência é de 4,7%, enquanto para a população essa taxa é de 1,9%, fato que atesta que a chance de uma pessoa com deficiência em contrair a doença e evoluir para óbito é mais que o dobro.

Além de readaptar as instituições para esse novo cenário de trabalho, prevenir trabalhadores, familiares e os deficientes, a Feapaes-ES tem lutado ainda, pela vacinação dos assistidos ao grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19.

Os detalhes sobre essa luta pela vacina, a importância da Federação para as instituições assistidas no estado e as adaptações para o trabalho em meio à pandemia, foram os assuntos da entrevista dada pelo presidente da Feapaes-ES, Vanderson Roberto Pedruzzi Gaburo para o Um Social. Confira:

– O que é a Feapaes e qual o seu papel para os federados?

A Federação das Apaes do ES é uma instituição do Terceiro Setor, sem fins lucrativos, que trabalha na defesa e garantia de direitos para a pessoa com deficiência intelectual, múltipla e autismo, na promoção da cidadania, articulação para a construção de políticas públicas e no assessoramento, formação e capacitação das unidades das Apaes e coirmãs.

– Falando do Espírito Santo, como a Feapaes tem contribuído para o desenvolvimento das Apaes?

Nosso esforço ao longo dos últimos anos tem sido o de fortalecer o trabalho das instituições, construindo projetos estruturantes com foco no desenvolvimento de ações com excelência. É um trabalho a várias mãos, que tem o foco de reforçar nosso papel como referência na oferta de serviços especializados para as pessoas com deficiência. É, sem dúvida, um trabalho contínuo e que precisa estar casado com as mudanças da sociedade.

– Qual o principal desafio para oferecer ainda mais apoio e suporte para as Apaes no Espírito Santo?

Os desafios são diversos. Mas destaco a constante necessidade do entendimento de que as Apaes e coirmãs são parceiras do Poder Público no desenvolvimento de políticas públicas, colocando as pessoas com deficiência no centro do debate, reforçando a noção de direito. Também precisamos avançar sempre nas estratégias de sustentabilidade financeira para conseguir estruturar apoios técnicos com qualidade. Sobretudo nesse contexto de pandemia, onde todo o terceiro setor está sendo muito impactado no custeio das suas ações.

– Falando de pandemia, o período exigiu medidas duras de distanciamento social e criatividade para manter os serviços que eram oferecidos antes da Covid-19. Como a Feapaes lidou com essa situação? Qual a sua avaliação sobre isso?

Como toda a sociedade, a pandemia afetou diretamente o planejamento e as ações desenvolvidas tanto pela Federação, quando pelas Apaes. Desde o início, construímos estratégias para balizar as condutas de todo o movimento no Estado, tendo como eixo norteador 5 pontos:

  • Foco na preservação da saúde de todos;
  • Tomada de decisões com responsabilidade;
  • Embasamento técnico de cada orientação;
  • Inovação e novas práticas;
  • Responsabilidade social com as pessoas com deficiência e suas famílias.

Articulamos permanentemente nossas decisões pelas autoridades sanitárias do Estado, para embasar cada conduta e as estratégias a serem adotadas. Apostamos muito na necessidade e possibilidade de desenvolver atividades não presenciais, remotas e de teleatendimento, construindo novas metodologias para isso inclusive, como no caso das atividades pedagógicas não presenciais na área da educação. Tem sido um período muito desafiador, com cenários que mudam a todo o momento e sempre nos exigem novas leituras e decisões.

A análise que fazemos é de que conseguimos dar uma resposta muito positiva, que serviu de inspiração para outros setores e Instituições. Seguimos cumprindo nossa causa.

– Como tem sido o cotidiano de trabalho das Apaes frente à pandemia, especialmente com as medidas que incluem o distanciamento social?

Seguindo as diretrizes que traçamos na Federação desde o início da pandemia, as Apaes e nossas coirmãs Amaes e Vitória Down, adotaram todas as medidas de prevenção impostas pelas autoridades sanitárias, suspendendo os atendimentos presenciais aos usuários, e direcionando sua força de trabalho para atendimento remoto e outras estratégias, para continuar levando atendimento às pessoas com deficiência e suas famílias, realizando atendimentos presencias apenas em casos essenciais.

Sabemos dos efeitos negativos que o isolamento social causa às pessoas com deficiência intelectual, por isso a necessidade de estratégias para minimizar os impactos decorrentes desse processo, tendo em vista ainda os fatores sociais e demais carências atreladas a grande parte dessas famílias. Embora muito desafiador, o saldo desse período é muito satisfatório.

A ação das Apaes e coirmãs tem sido fundamental para manter a visibilidade das pessoas com deficiência. Em muitos casos, somente a Instituição chegou às famílias com apoio, orientação e continuidade dos atendimentos, pensando em todos e tendo estratégias diferentes para não deixar ninguém para traz.

– Qual pilar foi diretamente impactado com a pandemia e o que a federação tem feito nesse sentido?

Uma das preocupações imediatas que tivemos desde o início da pandemia foi o risco de descontinuidade de projetos e ações e o retrocesso de políticas já estabelecidas para as pessoas com deficiência. Por isso, tem sido fundamental nosso esforço de criar novas estratégias para continuar desenvolvendo os atendimentos com qualidade e manter, em todos os espaços decisórios, a causa das pessoas com deficiência na mesa de debate.

– Quais são as consequências diretas que a pandemia do novo coronavírus trouxeram para a vida das pessoas com deficiência, de seus familiares e como estão sendo tratadas, que medidas estão sendo tomadas para contornar essas consequências?

As consequências são muitas e ainda estão em curso. Estamos finalizando uma pesquisa na Federação justamente sobre esse impacto. Na grande maioria dos casos, a questão da deficiência se associa a outras carências socioeconômicas, emocionais e de acesso a serviços para formar um conjunto muito complexo que envolve essa família. Em tempos de crise, tudo isso aflora de forma mais dramática.

Temos falado desde o início que a pandemia afeta de forma diferente os diversos atores da sociedade, sendo mais cruel com as minorias vulneráveis. Por isso, inclusive, que a Lei Brasileira de Inclusão garante um olhar diferenciado às pessoas com deficiência em tempos de calamidade pública como a que estamos passando. Do ponto de vista das pessoas com deficiência intelectual, o isolamento social é muito danoso. Durante décadas lutamos para derrubar os muros que impediam uma vida cotidiana para as pessoas com deficiência. Hoje, recomendamos o isolamento como uma estratégia necessária. Então, é importante ter isso claro e reconhecer que é necessário um olhar diferenciado. E é justamente isso que tem sido feito pelas Apaes e coirmãs.

– Sobre a taxa de pessoas com deficiência infectados pela covid no ES, esse número poderia ser menor? Qual sua avaliação?

Vejo esse dado de uma letalidade maior pela covid-19 nas pessoas com deficiência (4,7%) do que no público geral (1,9%) trazido pela Federação, como uma comprovação do que defendemos em termos de um olhar diferenciado para essa minoria. Infelizmente não temos visto isso de forma ampla. Uma pessoa com deficiência não é grupo de risco pela sua condição em si, mas pelos fatores agregados, como comorbidades e outras questões, que passam, também, pelas dificuldades de isolamento, sobretudo para quem depende de cuidados.

Nós produzimos uma cartilha com orientações de cuidado específica para as pessoas com deficiência, mas sentimos muita falta desse olhar e de uma política nacional organizada e pensada para dar conta da complexidade que envolve as pessoas com deficiência e suas famílias diante das medias de enfrentamento à pandemia. Com uma política organizada, talvez o resultado fosse diferente sim.

– Sobre vacinação, qual o posicionamento da Feapaes? O que tem sido feito para buscar a garantia desse direito?

Nós tivemos um avanço inicial que é fruto da mobilização de diversos atores. Na primeira versão do PNI elaborado pelo Ministério da Saúde, apenas pessoas com deficiência severa estavam no grupo prioritário, numa clara afronta a LBI. A versão atual, engloba todas as pessoas com deficiência. Infelizmente, sabemos que não há doses de vacina para todos e na quantidade que gostaríamos nesse momento.

Mesmo assim, nós defendemos a antecipação e o imediato início da vacinação para as pessoas com deficiência, como tem sido feita com algumas classes profissionais. Tendo por base o estudo que produzimos sobre a taxa de letalidade da pandemia no Estado, solicitamos formalmente ao Governo do Estado esse pedido.

– Qual a meta da Feapaes para o ano de 2021? O que podemos esperar?

Mais um ano desafiador e impactado pela pandemia. Além de manter todas as estratégias que já desenhamos de enfrentamento a pandemia, precisamos continuar caminhando e avançando. Fortalecer o trabalho da Federação e das Apaes e coirmãs, o protagonismo da família, a autonomia da pessoa com deficiência, a diversificação das ações de sustentabilidade, avanço na produção de conhecimento e informação são objetivos. Também precisamos debater a urgente expansão da rede de cuidados para a pessoa com deficiência na área da saúde, ampliando e organizando os serviços de reabilitação, colocando as instituições como parceiras do Estado.

Todas essas ações estão englobadas num grande programa que estamos implantando esse ano que é o Programa Apae Mais. Ele é um programa estratégico que visa dar continuidade ao fortalecimento das ações de gestão e tomada de decisão e qualificar os serviços ofertados aos usuários das Apaes e coirmãs, e que organiza todas as nossas ações e estratégias.

Deixe uma resposta

Fique tranquilo! Seu endereço de email não será publicado.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Assumiremos que você está de acordo com isso, mas você pode cancelar, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies