Projeto em Vitória reúne sustentabilidade, hábitos saudáveis, solidariedade e economia

“A Gente não quer só comida” contribui com pequenos comércios e pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar

As crises econômica e político-institucional foram agravadas pelos efeitos da grave crise sanitária instaurada no mundo, expondo a riscos, não só as pessoas físicas como as jurídicas.

Diante dessas questões e em meio às medidas de prevenção da Covid-19 como o isolamento social e o lockdown, surgiu o “A Gente não quer só comida”, um projeto idealizado pelo advogado, Mestre e Doutor em Direito, Caleb Salomão, e pela Mestre em Administração, empresária e artista plástica, Isabela Castello, que juntos atuam como diretores do Instituto Cognorama.

A iniciativa foi pensada com o olhar voltado para as pessoas sob risco alimentar, restaurantes de pequeno porte sob risco de continuidade do negócio e doadores/financiadores que buscavam fazer algo diante do caos instaurado na sociedade.

Em entrevista ao portal UmSocial, Isabela contou mais sobre como funciona e como está, atualmente, o projeto A Gente não quer só comida. Confira a entrevista na íntegra:

– Como e quando começou o projeto?

A ideia surgiu logo no início da pandemia, durante o primeiro lockdown. Vimos muitos relatos de pessoas sem acesso a comida, especialmente aquelas que estavam desempregadas ou que exerciam atividades informais ou precarizadas, como faxineiras, pedreiros, pintores, motoristas de aplicativos. Sem poder sair de casa, ficaram sem renda e sem ter como comprar alimentos.

Ao mesmo tempo, vimos os restaurantes fechando, sem renda, os empresários passando dificuldade e demitindo seus funcionários. Nesse momento, idealizei o projeto como forma de levar comida para quem tinha fome e gerar renda e manter os empregos dos restaurantes.

Eu e Caleb pensamos no nome e formatamos o projeto.

Foto: Cacá Lima

– Qual foi a motivação para iniciar o projeto?

O nome do projeto é “A Gente não quer só comida”, pois ele tem um objetivo mais amplo do que somente alimentar quem tem fome. Além desse objetivo, que é o principal, temos outros objetivos:

– Gerar renda para os pequenos restaurantes;

– Manter os empregos e a renda dos trabalhadores dos restaurantes;

– Disseminar a cultura de uma alimentação à base de vegetais, que é comprovadamente mais saudável, melhora a saúde e o sistema imunológico das pessoas;

– Contribuir para a sustentabilidade do planeta. Poucas pessoas têm a compreensão de como a nossa alimentação impacta o meio-ambiente. O consumo elevado de carne, por exemplo, está diretamente relacionado ao desmatamento das nossas florestas e à emissão de gases poluentes, contribuindo para o aquecimento global;

Só para destacar uma informação relevante: a relação entre o consumo de proteína animal e as pandemias.
No livro recém-lançado Pandemias, saúde global e escolhas pessoais, os pesquisadores brasileiros Cynthia Paim e Wladimir Alonso mostram como a maioria dos surtos de doenças nas últimas décadas — Ebola, HIV, H1N1 e Covid-19, por exemplo — teve alguma relação com a criação e o consumo de proteína animal.

– Em quais bairros/região o projeto atua?

Iniciamos um piloto do projeto, com a colaboração do restaurante Sol da Terra, que produz as marmitas veganas e da ONG Ateliê e Ideias, que atua no Território do Bem. As marmitas foram distribuídas nos bairros Bonfim, Jaburu e São Benedito, em Vitória.

Temos a intenção de futuramente ampliar para outros bairros e comunidades, contando com a participação de novos restaurantes para a produção das marmitas e ONG´s para gerenciar a distribuição nas comunidades.

– Como funciona o projeto, desde as arrecadações das doações até a entrega?

Fizemos um piloto do projeto durante o segundo lockdown que aconteceu em abril deste ano. Arrecadamos recursos para a produção de 500 marmitas, que foram distribuídas entre os dias 24/04 e 30/04. A gestão da distribuição das marmitas foi feita pela ONG Ateliê de Ideias, que atua na comunidade há mais de 20 anos. Eles organizaram a articulação com os movimentos Núcleo de Itararé da Pastoral do Povo, Pastoral do Povo de Rua e Fórum da Juventude do Território do Bem.

Os recursos foram arrecadados por meio de doação de diversas pessoas que colaboraram com o projeto. Os valores foram repassados ao restaurante Sol da Terra que produziu as marmitas de acordo com o calendário de distribuição feito pelo Ateliê de Ideias. A cada dia integrantes dos movimentos iam até o restaurante, retiravam as marmitas e as distribuíam nos bairros, seguindo o calendário.

Foi uma atuação pontual para testar o formato do projeto. E funcionou muito bem. Iniciamos agora uma nova etapa de arrecadação de recursos para dar continuidade ao projeto e mantê-lo continuamente.

Foto: Cacá Lima

– Como é feita a arrecadação dessas doações?

As doações são feitas por um aplicativo muito simples de usar que está na home do projeto (www.agentenaoquersocomida.org.br) e qualquer valor é bem-vindo.

– O projeto tem algum apoio fixo de iniciativa pública ou privada?

Até o momento não. Seria muito bom poder contar com apoio de empresas ou entes públicos para que possamos ampliar o alcance do projeto.

– Quem pode ajudar e como fazer?

Qualquer pessoa pode colaborar. Existem três formas de contribuir para o projeto:

– A pessoa pode fazer uma doação pontual, de qualquer valor;

-Pode fazer uma doação recorrente, que é destinar mensalmente um valor para o projeto para nos ajudar a manter o projeto a longo prazo;

– Pode se tornar um Embaixador do Projeto, viabilizando 10 doadores recorrentes de qualquer valor. Ou seja, convidar 10 pessoas para fazer uma doação recorrente.

– Quantas pessoas foram atendidas até o momento?

Nesse projeto piloto foram 500 marmitas. Atualmente, estamos iniciando um novo ciclo de captação de recursos para dar continuidade ao projeto.

– Quantas pessoas atuam direta ou indiretamente no projeto?

Considerando a equipe do restaurante, o Conselho Fiscal, a ONG e os integrantes dos movimentos sociais, são mais de 30 pessoas mobilizadas para realizar o projeto.

– Quem coordena e quais são as pessoas de frente ao projeto?

Eu e o Caleb Salomão somos os coordenadores do projeto. Mas estamos contando com o apoio e a ajuda de muitas pessoas, além da ONG, do restaurante e dos movimentos sociais.

Participam do Nosso Conselho Fiscal: João Dalmácio Castello Miguel, José Teófilo de Oliveira, Ana Coeli Piovesan, Evandro Millet, Bruno Dall’orto e Dionísio Gomes.

A agência Lore e a Diálogo Comunicação estão fazendo a comunicação do projeto de forma voluntária. Contamos também com o trabalho dos fotógrafos Cacá Lima, Marcos Sales e Mônica Zorzanelli que, voluntariamente, fizeram o registro das entregas das marmitas.

– Onde fica o local físico do projeto e as formas de contato?

O projeto é coordenado pelo Instituto Cognorama. O papel do instituto é fazer a gestão dos recursos, repassando ao restaurante e coordenando com a ONG a distribuição das marmitas. Atuamos em casa, funcionando como um hub para integrar os dois parceiros.

Para saber mais acesse o site www.agentenaoquersocomida.org.br ou na página do projeto no Instagram @cognorama

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