ES recebe 564 livros para impulsionar projeto de incentivo à leitura nos presídios
Iniciativa amplia acesso à literatura nos Centros de Detenção e fortalece a ressocialização por meio da leitura
A leitura tem se mostrado uma poderosa ferramenta de transformação social dentro do sistema prisional do Espírito Santo. O projeto “Mentes Literárias: da magia dos livros à arte da escrita”, desenvolvido no Centro de Detenção e Ressocialização de Linhares, acaba de receber um importante reforço: a doação de 564 livros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A iniciativa, que integra a política de remição de pena por meio da leitura, é voltada à ressocialização de internos, oferecendo acesso a obras de autores consagrados da literatura brasileira, como Machado de Assis, Graciliano Ramos e Aloisio Azevedo.
O projeto segue os princípios da Resolução CNJ nº 391/2021, que reconhece a leitura como uma prática educativa com potencial de remição de pena. Conforme explica Silvia Garcia, subgerente de Educação em Prisões da Sejus, cada livro lido pode reduzir a pena em até quatro dias, o que representa um importante incentivo à participação.
“Os novos livros agora fazem parte de um acervo que oferece oportunidades de reconexão com a cultura e o conhecimento. Mais do que um benefício penal, o projeto ajuda os internos a reescreverem suas histórias”, destaca Silvia.
Expansão do projeto beneficiará mais internos
Atualmente, 20 internos participam ativamente do “Mentes Literárias”, mas com a doação, a expectativa é triplicar esse número, chegando a 60 participantes. A professora de Língua Portuguesa e Literatura, Karen Anne Antunes Cardozo, responsável por conduzir as atividades na unidade, destaca que o projeto vai além da leitura.
“Promovemos rodas de conversa, criação de mapas mentais, produção de textos e até expressões artísticas com base nas obras. A leitura é a porta de entrada para novas perspectivas de vida, conhecimento histórico e autoconhecimento”, pontua Karen.
Os relatos de quem vive a experiência no dia a dia revelam o verdadeiro impacto do projeto. O interno T.P.V., que concluiu o Ensino Médio dentro da unidade, relata que a leitura se tornou uma companhia diária e essencial no processo de transformação pessoal.
“Antes eu via os livros como algo distante. Hoje, são parte da minha rotina. Aprendi a dialogar, a ouvir e a me expressar. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que estou me reconstruindo como ser humano”, disse.
Outro participante, o interno F.N.S., conta que se surpreendeu ao debater autores como Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis. “A leitura aqui dentro virou uma forma de lidar com traumas e melhorar o convívio. É uma experiência de cura e fortalecimento emocional”, relatou.
Leitura como política de reintegração social no ES
O projeto faz parte do esforço estadual para humanizar o sistema prisional e oferecer novas oportunidades aos custodiados. No Espírito Santo, o Projeto de Remição pela Leitura já está presente em 17 unidades prisionais, envolvendo cerca de 300 internos.
Com iniciativas como o “Mentes Literárias”, a Sejus reforça o compromisso com a educação como instrumento de ressocialização, promovendo dignidade, reflexão e novos horizontes para quem busca um recomeço.