Empreendedorismo feminino no ES: desafios e conquistas na trajetória de Bryce Caniçali
Contra os obstáculos, Bryce Caniçali, mulher negra de 41 anos, não desistiu e, em seu sucesso, encontrou uma forma de empoderar outras mulheres negras
As mulheres representam 33,6% dos empreendedores do Espírito Santo, um reflexo de um cenário que se repete em todo o Brasil. No entanto, apesar dos avanços, os desafios de acesso ao crédito e a conciliação de múltiplas jornadas ainda limitam o pleno potencial do empreendedorismo feminino.
Como forma de homenagear, debater o assunto e incentivar a entrada de mulheres no mercado, a Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu criar o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado nesta terça-feira, 19 de novembro.
De acordo com os dados de 2023 do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado possui 581 mil empreendedores e, destes, 196 mil são mulheres. No Brasil, os dados são de 2022: são mais de 30 milhões de empreendedores e 10,3 milhões são mulheres (34,4%).
Contrariando todos os obstáculos, a criadora de conteúdo e CEO da Brily Estúdio Criativo, Bryce Caniçali, uma mulher negra de 41 anos, não desistiu e, no seu sucesso, encontrou uma forma de empoderar outras mulheres negras.
Segundo uma pesquisa do Sebrae (2021) sobre este recorte da população, as mulheres negras representam 47% do total de empreendedoras no Brasil. Deste número, cerca de 8% contratam funcionários.
Apesar desses números, elas ainda precisam superar obstáculos que vão desde o racismo estrutural até a falta de financiamento. É nesse contexto que histórias como a de Bryce se destacam. “O que me motivou a empreender foi a necessidade, minha mãe me criou com bastante dificuldade sendo mãe solo e eu comecei a pintar e vender camisetas para ter meu dinheiro”, contou
Seu primeiro empreendimento chegou a se tornar uma fábrica de roupas femininas, mas, após 8 anos, acabou não dando certo e Bryce precisou inovar mais uma vez.
“Acabei encontrando no Marketing uma nova forma de empreender. Hoje empreendo como criadora de conteúdo e como CEO da Brily, um estúdio de conteúdo estratégico criativo pra marcas, junto com minha sócia”, explicou.
Entre os diferenciais de sua empresa, Bryce explica que só contrata pessoas pretas. Além disso, do seu quadro de sete funcionários, apenas um é homem.
“O propósito do meu negócio é gerar oportunidade pra pessoas negras, em um ambiente seguro e de muitas trocas e levar uma comunicação mais diversa, com um outro olhar para os nossos clientes. O mercado da Comunicação ainda é tão branco, tão masculino. Nossa intenção é colocar um pouco do nosso olhar e vivência nas estratégias dos nossos clientes”, contou a criadora de conteúdo.
Obstáculos
Além da dificuldade financeira enfrentada, dificuldade com a rotina dupla e, às vezes tripla, as mulheres negras ainda precisam lidar com o racismo estrutural.
“Foram e são tantas dificuldades. A escassez… ter R$ 50 para começar um negócio e ainda ter que lidar com as marcas que o racismo cotidiano deixa na gente, diminuindo nossa autoestima, nos fazendo duvidar de nós mesmas, nos sentindo incapaz”, lamentou a CEO.
De acordo com Bryce, alguns ataques são mais sutis e ficam nas entrelinhas. Seja na mensagem de um cliente homem tentando ensiná-la a fazer seu trabalho porque, por conta do gênero, acha que sabe mais, ou até na falta de resposta a um orçamento.
“Sem romantismo, para a gente que é mulher, sobretudo negra, tem que se esforçar ainda mais. Infelizmente, é desumano, mas ainda é real. Queria um cenário mais igual, onde a gente tivesse mais tempo para se capacitar, por exemplo. Até porque, tendo que dividir o tempo com a criação de filhos e a necessidade de colocar comida na mesa, muitas de nós acabam tendo que aprender com o negócio rodando. Aí falta entendimento técnico para gerir o negócio e muitas acabam falindo por isso”.
Para finalizar, a empreendedora destacou a importância das mulheres se fortalecerem. “Tenho muito orgulho de proporcionar oportunidades para que outras mulheres cresçam junto com a gente e se destaquem no mercado. Quando fazemos isso, o impacto social é grande e ainda faz uma gestão que busca performance para o cliente, mas com um olhar humano, que enxerga a colaboradora além do trabalho”.
Ao transformar seus desafios em oportunidades, mulheres como Bryce reescrevem suas histórias e pavimentam um caminho de inclusão e inspiração para muitas outras. Para além dos negócios, o impacto se torna em um movimento por um mercado mais justo e diverso.
Reportagem: Amanda Drumond